sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

RELEMBRANDO GENTE DE PORTO ALEXANDRE V



por Alfredo Baeta Garcia

2ª edição anotada


Parte V



Secção de enlatamento de uma fábrica de conservas de peixe


MEMÓRIA DA CONSERVEIRA

A Conserveira do Sul de Angola, Lda, que desenvolve a sua actividade especialmente no sector da pesca e sua indústria transformadora, com instalações para o efeito em Porto Alexandre, foi fundada na década de 30 pelos Srs. Dr. Torres Garcia, José de Matos Garcia, Costa Santos, Dr. Carvalho Santos e Prof. Manuel da Piedade Martins. As cotas eram de 50 contos cada uma, excepto as do Dr. Carvalho Santos e Prof. Martins, que eram de 25 contos cada.

Desde muito cedo alguns sócios foram ficando pelo caminho, sendo primeiro o Dr. Carvalho Santos, por nunca ter realizado o capital que subscreveu, seguindo-se Costa Santos, industrial em Moçamedes, cuja cota foi comprada pela Conserveira em tribunal, devido à sua situação económica muito difícil. Anos depois, por volta de 1945, os herdeiros do Dr. Torres Garcia vendem a sua parte à empresa ficando, a partir daí, apenas dois sócios, Matos Garcia e Prof. Martins, o primeiro com o dobro do capital e o único que tinha poderes de gerência, expressos na escritura de constituição, mas que podiam ser concedidos a terceiros por procuração.

Por essa altura o sócio Matos Garcia fixa residência em Lisboa e monta um escritório que efectua a compra das mercadorias a enviar para Moçamedes, onde se pretende desenvolver a parte comercial da empresa e promove a venda das conservas.

Ao mesmo tempo o Prof. Martins muda a sua residência para Moçamedes e abre-se um armazém, no qual também passa a funcionar o escritório, onde fica centralizada toda a escrita, ficando em Porto Alexandre uma pequena secção para controlo e elaboração de elementos contabilísticos elementares.

O Prof. Martins, que até aí agia sob uma espécie de tutela, deu-se a tomar decisões que estiveram na origem do desentendimento que levou à saída do sócio Matos Garcia, que acabou por vender a sua posição aos novos sócios, Gaspar Madeira e Lourdino Tendinha.

No período compreendido entre 1943 e 1950, em que fui seu empregado, A Conserveira era, sem dúvida, a empresa mais importante do distrito de Moçamedes e pioneira em algumas actividades.

A partir desta última data, que coincide com a saída do sócio Matos Garcia, a empresa entra em dificuldades resultantes de más administrações, que a levam à falência e ao seu puro e simples desaparecimento na época de maior desenvolvimento e prosperidade destas actividades em todo o litoral Sul de Angola.

Nesta época a empresa era constituída pelas seguintes actividades e suas diferentes modalidades, todas instaladas em Porto Alexandre, com excepção do escritório e armazém em Moçamedes e escritório em Lisboa:

PESCA
Uma traineira, a Diogo Cão, que foi a primeira embarcação deste tipo matriculada na Delegação Marítima de Porto Alexandre e a pescar na sua zona. Tinha uma capacidade de cerca de Vinte Toneladas de carga;
Duas sacadas, sendo uma motorizada e outra à vela;
Uma armação à Valenciana simples.

FÁBRICA DE FARINHA E ÓLEO
Fábrica mecânica, a partir do que antes fora uma rudimentar bateria de prensas manuais e dois caldeirões para cozedura, incluindo um secador rotativo para guano, que era novidade na época e que nunca foi posto a funcionar; uma prensa manual Marmonier.
Esta fábrica foi construída em Lisboa pela firma Alfredo Alves, sob licença Norueguesa da “Myrnes?”

FÁBRICA DE CONSERVAS
A primeira a ser instalada em Porto Alexandre, com autonomia de laboração, por não ser possível de outro modo, com algo de primitivo em comparação com as suas congéneres metropolitanas de então, mas que seria, na altura, a segunda de Angola. Dedicava-se quase exclusivamente ao atum e subsidiariamente a sarrajão, filetes de cavala e outras variedades de pequena monta.

SALGA E SECA
Tradicional e de média capacidade em relação ao volume de pescado, pois a sua grande maioria destinava-se a farinação.

TRANSPORTES
Um galeão à vela, Vissonga, depois Vouga, para transportes entre Moçamedes e Porto Alexandre, principalmente de lenha;
Uma barcaça;
Uma camioneta de carga para transportes diversos;
Duas pontes em Porto Alexandre, principalmente para descarga de peixe.

OFICINA DE SERRALHARIA
Para apoio a todas as secções.

ESTALEIRO NAVAL
Construção e reparação de barcos de pesca e respectiva carreira para esses fins.

ENFERMAGEM
Instalada sob pressão do então Delegado de Saúde, Dr. Araújo de Freitas.

COMÉRCIO
Estabelecimento de comércio geral, desde fazendas, mercearias, ferragens e artigos de pesca e que durante algum tempo foi o melhor da Vila.
Um armazém em Moçamedes, em edifício próprio, para recepção e distribuição de mercadorias importadas para embarque a partir deste porto, pois os navios de carreira não escalavam Porto Alexandre, a não ser para carregar grandes tonelagens, como farinha e óleos.

ESCRITÓRIO
Em Moçamedes a partir de certa altura, com uma secção em Porto Alexandre, outra em Lisboa, especialmente para compra de mercadorias e venda de conservas, como já foi dito.
Na impossibilidade óbvia de citar números referentes ao movimento da empresa, passo, no entanto, a citá-los no que se refere aos empregados, pretos e brancos, estes até pelos seus nomes que ainda recordo, na sua grande maioria.

Entretanto a empresa instala, em terreno superiormente indicado para o efeito e fora da área das suas actividades tradicionais:

KARAKUL
Com alguns carneiros importados de contrabando da África do Sul, uma exploração para obtenção de peles de que não chegou a tirar-se grande resultado, como aliás aconteceu com todos, e muitos foram, os que tentaram essa actividade.


ORGANOGRAMA
[ clicar nos gráficos para aumentar ]

Pesca

 
Fábricas / Salga e Seca





Outros [9]







Resumo do Pessoal

86 contratados pretos
a que normalmente se juntava um pequeno número de mucubais, nunca mais de dez, que trabalhavam exclusivamente na secagem de peixe;

41 europeus

4 quimbares


Era normal a entreajuda das várias secções, feita pelo pessoal contratado, com um horário de trabalho muito alargado e, mesmo assim, com grandes dificuldades, de que se ressentia principalmente a secção de Salga e Seca que, por este facto, teve desde sempre fraca capacidade de produção.

Não se fazem referências ao KARAKUL, pois nunca tive qualquer ligação com essa secção. Apenas lá fui uma vez, de visita, a mais de 200 quilómetros de Porto Alexandre, relativamente perto do sopé da serra da Chela, no caminho para o Lubango (Sá da Bandeira).

O pessoal aqui indicado refere-se exclusivamente ao período que vai de meados de 1943 a 1950.


Fim



Padrão do Cabo Negro em 1974
imagem: Domingos Lindo





Nota:
[9] vd. comentário de Cláudio Frota (Anónimo) – 23/02/2009, abaixo.


Comentários à 1ª edição:

2 comentários

24/7/06 8:34 da tarde
JotaCê Carranca disse...
Gostei de estar aqui. Vi os nomes do meu avô e de minha mãe. Madalena, ajudante de guarda-livros.
Um grande abraço

23/2/09 7:53 da tarde
Anónimo disse...
Foi uma agradável surpreza a informação sobre as actividades da Conserveira e o organograma do seu pessoal. Sou filho do Serafim dos Santos Frota que foi guarda livros da empresa durante mais de trinta anos mas no organograma refere como guarda livros um seu irmão Manuel dos Santos Frota. Julgo haver aí algum engano. Serafim foi para Porto Alexandre pelos anos 1932 quando era gerente Matos Garcia e regressou a Moçâmedes em finais de 1944 ou princípios de 1945, quando da transferência do escritório da Conserveira para esta cidade. Um abraço.
Cláudio Frota


RELEMBRANDO GENTE DE PORTO ALEXANDRE IV

por Alfredo Baeta Garcia

2ª edição anotada

Parte IV


imagem: Google Earth



Finalmente cumpre referir três instituições com valores e influências diferentes no meio social e económico alexandrense:

CLUBE RECREATIVO ALEXANDRENSE
Implantado num velho edifício no centro da Vila, era o local onde se realizavam todas as manifestações sócio-culturais, tais como frequentes bailaricos, reuniões de qualquer natureza e salas de jogos para "batota" quer a dinheiro, quer a maços de cigarros a que não faltavam clientes, especialmente entre as cinco horas da tarde e a hora de jantar. Foi também o local onde, pela primeira vez, se realizaram sessões regulares de cinema. Possuía uma Guiga para regatas a remos, que nunca vi em cima de água e deve ter acabado carcomida.

INDEPENDENTE DE PORTO ALEXANDRE
Clube cuja finalidade era o desporto mas que, nesse tempo, não ia além das intenções, pois não tinha quaisquer instalações para o efeito. Por volta de 1953 adaptou um areal nas traseiras da antiga Delegação Marítima a campo de futebol. Muitos anos mais tarde veio a ter uma das principais equipas dessa modalidade em Angola chegando, pelo menos uma vez, a disputar a Taça de Portugal.

SINDICATO DE PESCA, depois GRÉMIO DOS INDUSTRIAIS DE PESCA
Foi fundado em 1932 por iniciativa do meu conterrâneo Dr. António Alberto Torres Garcia, sendo de longe a maior obra sócio-económica do Distrito, se não mesmo de toda a colónia de Angola, vindo Benguela, anos depois, a seguir o exemplo, pois veio organizar a indústria de peixe seco e posteriormente a de farinhas e óleos de peixe, que até àquela data vegetavam ao sabor dos interesses de aventureiros e oportunistas à custa dos pequenos industriais de pesca.
A importância deste organismo foi de tal maneira válida que as suas estruturas iniciais se mantiveram inalteradas, no fundamental, até ao fim, até 1975 e parece que mesmo para além dessa data.
A sua secção local era a maior do Distrito, instalada em amplos e modernos armazéns servidos pela maior ponte-cais, onde atracavam as embarcações de cabotagem de toda a costa e Congos.
Infelizmente esta época não produziu nenhum cronista local com a capacidade para fazer a história dos últimos setenta anos com a dignidade e a arte que merece. A única coisa que conheço em relação a Porto Alexandre é o belíssimo conto de Bobela Motta – Conflitos de Jurisdição – que é muito pouco.


RELAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS EXISTENTES EM PORTO ALEXANDRE EM FINAIS DE 1943

1 Francisco da Conceição
2 António Trocado
3 Albérico Sampaio
4 Adérito Sanches
5 Francisco Carvalho
6 Tavares (Andrade & Abano ?)
7 Carlos Pessoa
8 Vergílio Peleira
9 Conserveira
10 Sul Angolana
11 Parceria de Pesca
12 Tomé Tendinha
13 Andrade & Abano
14 Guimbra
15 Viúva Tavares
16 Antunes da Cunha
17 Sena & Ribeiro




Colégio Cónego Zagalo e Igreja Paroquial
imagem:  http://mossamedes-do-antigamente.blogspot.pt/ 


Comentários à 1ª edição:

4 comentários:

24/11/06 6:16 da tarde
 Tomaz disse...
Se achar de interesse poderei completar alguns nomes de pessoas e empresas. Parabéns pelo seu trabalho digno do maior apreço. Sem ele não existiria história de Porto Alexandre. Gohaed!

24/11/06 6:20 da tarde
Tomaz disse...
Go ahead

4/12/06 9:58 da tarde
Admário Costa Lindo disse...
Força Tomaz,
O que mais é preciso é ajuda de todos.
Um forte abraço.

4/12/06 10:03 da tarde
Admário Costa Lindo disse...
Tomaz,
o melhor será enviar-me o texto por email para publicação no corpo da página.








RELEMBRANDO GENTE DE PORTO ALEXANDRE III

por Alfredo Baeta Garcia

2ª edição anotada

Parte III



Welwitschia mirabilis (Tombwa)
imagem: https://www.tripadvisor.pt


Para além da população permanente que vivia, toda ela, directa ou indirectamente da pesca, havia o funcionalismo público, próprio de um concelho equipado com todos os serviços normais como Correios, Repartição da Fazenda Pública, Administração, Alfândega, Delegação Marítima, Delegação de Saúde e Hospital, Junta de Exportação, Florestas e Protecção das Dunas e Pároco da Freguesia, cujo patrono era S. Pedro.

As pessoas aqui lembradas teriam, eventualmente, algumas particularidades que, então, as marcassem para ainda estram presentes na minha memória. Dos restantes, que eram o maior número, ainda retenho a lembrança de muitos, mas sem a mesma nitidez e por isso não cabem numa relação que não é um recenseamento da população de Porto Alexandre na década de quarenta.

Todos se encaixavam, melhor ou pior, neste meio social muito característico que já ia na terceira geração aqui nascida, descendentes dos primeiros pescadores algarvios de Olhão que vieram para estas praias. Havia no entanto uma “classe” que não pode deixar de ser referida, a dos agiotas que praticavam juros de enforcado e a que eu recorri por mais de uma vez. Em Porto Alexandre era muito pequena, mas numerosa em Moçamedes, simbolizada pelo Passa Fome. Ao fim e ao cabo era o resultado de o dinheiro do Banco de Angola não ser para emprestar aos industriais de pesca, mas apenas aos comerciantes.

Pessoas houve que, não tendo relações familiares, exerceram grande influência no seu tempo e foram altamente consideradas, de que é exemplo o meu conterrâneo José de Matos Garcia que, para além de grande industrial em Porto Alexandre, foi presidente da Câmara Municipal de Moçamedes e presidente do Sindicato de Pesca do Distrito de Moçamedes, sendo um dos homens mais destacados do seu tempo, tanto em Porto Alexandre como em Moçamedes.

Uma relação desta natureza ficaria incompleta se não fizesse referência à população negra permanente, que era muito reduzida, pois a grande maioria era eventual e constituída pelos chamados Munanos, vindos contratados dos planaltos do Sul e dos Ganguelas. A essa população permanente chamavam Quimbares, supostamente de várias origens, talvez alguns Curocas, rio cujo vale tinha condições mínimas de habitabilidade e ficava próximo da Vila.

Dos homens ainda recordo alguns:

SANGOLAR, mestre de uma canoa de pesca à linha do Tomé Tendinha;

CANGÚIA, também mestre e proprietário de uma canoa cuja mulher, a Beatriz, ainda era viva quando de lá saí;

MACUíCA, contra-mestre de uma sacada da Conserveira, cujo mestre era o Américo Silva ou Juventino Graça;

CARECA, motorista de uma enviada da Conserveira;

JOSÉ REPUBLICANO [7], assim chamado por ter nascido no dia 5 de Outubro de 1910, pescador e parece que ainda era vivo por volta de 1994;

CÉSAR, serralheiro da Conserveira, um grande artista na sua profissão, saído da grande escola que foi, no seu tempo, a Companhia do Sul de Angola;

CARLOS, também serralheiro da Parceria de Pesca;

JOSÉ CHIRULO, caixotero da Conserveira;

DOMINGOS MUCUBAL, ajudante na camionagem de Sousa & Irmão, foi o único elemento da sua etnia que conheci com hábitos de assimilado;

TALAMUCA, pisteiro dos caçarretas da região;

MATEUS, suponho que era Curoca e grande fumador de cangonha;

CHICO, servente da Pensão do Chico da Conceição – Cardoso;

AUGUSTO, mestre do galeão Vissonga;

VELHO, cozinheiro da Messe do Pessoa.

Das mulheres lembro mais nomes e imagens do que dos homens, tais como:

HELENA COMBOIO, que era uma bonita rapariga;

ANTÓNIA, que era ligeiramente cambaia;

DOMINGAS, certamente Curoca e que foi minha lavadeira durante muito tempo;

CAQUINDA, filha do Republicano,  boa lavadeira e cozinheira. [8]

CLARISSE, afilhada do Celestino Carvalho que a mulher criou até rapariga;

SEGUNDA GORDA, que na altura já era mulher de certa idade;

CÂMIA, que era zarolha e me deu uma lição de comportamento;

DOMINGAS CANHÓNHÓ, vivia com o João Nunes Cardoso, gerente da pensão do Chico da Conceição, então a única da terra;

GUÉU, tia da Helena Comboio e que viveu com o velho Beja carpinteiro;

JÚLIA, enlatadeira da Conserveira;

JÚLIA, mulher de um pescador quimbar;

CANGO, que esteve presa durante uns meses na Baía dos Tigres por problemas com o Chico da Conceição;

CACHOPA, criada de miúda em casa da Cândida Trocado;

EUGÉNIA ZAROLHA, lavadeira;

MARIAZINHA, filha da Coxa curoca, sogra de um Barreto, era servente da D. Maria Luísa Arrobas da Silva; tinha uma irmã chamada Chitenga;

CATCHAFO, que veio com um contratado Cuanhama e depois por lá ficou;

PALMIRA DO SANTANA, que substituiu a D. Virgínia Maló como chefe das enlatadeiras da Conserveira;

CHICA, filha de um Francisco do Norte, aqui a cumprir pena em liberdade;

CREMILDE, mestiça, enlatadeira do Patrício Correia;

SEGUNDA, filha da Segunda Gorda;

ADELINA, afilhada da D. Adelina do Manuel do Motor;

Em Moçamedes lembro-me da GENINHA, filha do Quarenta Raios; a LAURA HÚMIDA, que foi para Benguela.

Dos Quimbares, homens e mulheres, tenho ideia vaga de outros mais que não consigo localizar, nem pelos nomes nem por outros pormenores.

Todos estes nomes são hoje figuras anónimas que pouquíssimas pessoas conseguirão retirar desse anonimato, situação agravada com as condições que os mortos e os vivos tiveram de sujeitar-se no final de uma época que acabou em morte violenta.


traineira alando as redes
imagem: http://princesa-do-namibe.blogspot.pt/



Notas:
[7] Seria, mais tarde, o Regedor de Porto Alexandre.
[8] Dona Maria Jesus Marçal: o quiproquó suscitado pela sua legítima indignação, está definitivamente resolvido. Não era intenção do Sr. Alfredo Garcia (já falecido), desrespeitar a pessoa em causa. O sobrinho  do Sr. Garcia pediu a retificação da malfadada passagem, que só nesta 2ª edição do artigo foi possível, por problemas técnicos do antigo blog. Queira aceitar o nosso encarecido pedido de desculpas. (vd. comentários abaixo).


Comentários à 1ª edição:
4 comentários:

11/4/14 11:48 da manhã
maria jesus marcal disse...
bom dia, eu sou Maria Jesus Marçal, filha Delfina cristina Republicano (d.caquinda) e ao ler o seu artigo (relembrando Porto Alexandre) fiquei muito indignada pelo comentário acerca da minha mãe, tendo sido ela uma boa lavadeira, boa cozinheira e até fazia bolos que eram vendidos nas escolas e não só, poderia ter sido recordada por estes atributos e não PELA SOVA QUE O PAI LHE DEU POR ANDAR METIDA COM BRANCOS. esse seu comentário demonstra uma enorme falta de respeito para com a memoria da minha mãe.

12/4/14 12:36 da manhã
Admário Costa Lindo disse...
Minha cara Maria Jesus: como não indica no comentário a quem se dirige a sua indignação, pressuponho que se dirige a mim. Não só pressuponho como é claramente implícito ("esse seu comentário demonstra ..."). Porém, minha cara. você comete um erro tremendo: não sabe ler atentamente. Eu sou o autor do blog mas o artigo é da autoria de Alfredo Baeta Garcia, como bem vai indicado abaixo do título. O seu comentário deveria explicitar concretamente o destinatário.

12/4/14 6:13 da tarde   
maria jesus marcal disse...
a minha indignação vai para quem o escreveu, parece-me que o senhor é que não percebeu bem. se o comentário foi publicado no seu blog, era no seu blog que eu teria que responder. de qualquer forma, sendo escrito ou não por si, considero o comentário bastante ofensivo tendo em conta que ninguem tem o direito de expor a vida de ninguém desta forma muito menos quando a pessoa já cá não está para se defender. posto isto, peço que tenha a gentileza de de excluir a minha mãe dessas "lembranças" de porto alexandre. por acaso caro senhor Admário, eu sei ler atentamente.

10/1/15 6:56 da tarde
 Anónimo disse...
Maria Marcal o correcto seria processar esse indivíduo Alfredo Baeta Garcia, como única maneira de educar esse tipo de gente.






RELEMBRANDO GENTE DE PORTO ALEXANDRE II

por Alfredo Baeta Garcia

2ª edição anotada

Parte II


Porto Alexandre/Tombwa
imagem: Google Earth



COIMBRAS
De Alpiarça, eram três irmãos: o Fernando, da firma Coimbra & Silva, veio ultimamente a ser meu sócio na Lusitana; o João, que antes foi chauffeur do Sindicato e depois sócio da firma Andrade & Abano; o mais novo, o Rogério, foi motorista da Câmara de Luanda.

GUIMBRA
De Matosinhos, tinha uma tasca a confinar com o perímetro florestal das dunas e viveu sempre pobremente.

CHICO BATISTA
Da Nazaré [4] e mandador da armação do Portela. Também tinha uma canoa tripulada por quimbares. O Batista dos atunzinhos, como ele chamava ao atum.

JOSÉ DO CARMO TAXA
Da Nazaré, também mandador da armação da Sul Angolana. Era um homem muito corpulento, mas uma paz de alma que passava por arreliar alguns maridos.

JOSÉ MARIA CODINHA
Também da Nazaré e mandador da armação da Conserveira. A sua mulher, a D. Felicidade, era um exemplar típico da praia da Nazaré.

IRMÃOS PADEIROS
Era o grupo familiar mais original e unicamente constituído por dois irmãos, já de meia idade, conhecidos por Irmãos Padeiros, sendo um deles o Chico. Não tinham casa, apenas uma pequena canoa encalhada a maior parte do tempo, onde dormiam e cozinhavam na praia. Só iam ao mar pescar à linha quando lhes faltava o vinho e pouco mais. Não tinham quaisquer parentes nem se conhecia a sua origem. Lá os deixei ficar em 1954 com a sua “Palheira”, tal como os encontrei onze anos antes.

JOÃO MALÓ
Algarvio, conserveiro da Conserveira, casado com a D. Virgínia enlatadeira principal que, quando estava mal disposta, rompia numa cantoria esganiçada que denunciava o seu estado de espírito. O velho João Maló tinha uma particularidade que revelava alguma contrariedade, era de fazer desabar para a nuca a seu chapéu preto e também a de baptizar os contratados que trabalhavam com ele com os nomes dos brancos com que não simpatizava.

EMELINO ABANO
Comerciante, sócio da firma Andrade & Abano, meu adversário de renhidas partidas de gamão a maços de cigarros.

ADÉRITO SANCHES
Comerciante e depois industrial de pesca, proprietário de uma das mais importantes casas comerciais de então. Ultimamente pouco tempo lá permanecia.

PATRÍCIO CORREIA
Chegou a ser o maior industrial de conservas e ganhou muito dinheiro no período que terminou cerca de um ano ou dois depois da guerra, mas acabou por falir porque a certa altura convenceu-se que era um homem muito rico e desatou a fazer asneiras. Acabou em Cabo Verde a tentar repetir a primeira proeza que começou num barraco do Albérico Sampaio, coberto com bordões e acabou num grande edifício.

Dr. JOÃO ARAÚJO DE FREITAS
Médico, foi Delegado de Saúde durante vários anos, ficou sem um braço arranhado por uma leoa velha que andava aos cães junto às salinas do Pinda, de que sobreveio uma infecção que levou à sua amputação. Foi ele que me tratou de uma disenteria amibiana que me ia custando a vida. Muitos anos depois, voltei a vê-lo por duas vezes em Lisboa.

Prof. JOÃO CARDOSO DAS NEVES
Professor Primário, foi quem acabou por matar a leoa, mas antes teve de fugir para dentro de um canteiro das salinas, com água pelo joelho e foi daí que a matou. Foi o único homem com quem briguei em Angola, por causa de mexericos quando da saída do Matos Garcia de sócio da Conserveira.

CARVALHO DAS DUNAS
Guarda-florestal, de que apenas me lembro por ser o pai da Fernanda que era uma bonita rapariga e chegou a ser caixa na loja da Conserveira.

JOÃO MANITA
Filho de pais com alguma fortuna vendeu, nos fins da década de quarenta, tudo o que cá possuía e foi para Olhão onde o fizeram presidente do Olhanense e parece que acabou mal de finanças. Era pai da Maria do Carmo, sobre a qual exercia grande vigilância para que ninguém a namorasse.

MANUEL MARTINS
Mais conhecido por Manuel do Motor, casado com a D. Adelina que me fez dezenas de litros de chá de goiaba durante a minha amibiana. Era do Motor por ser o encarregado da central elevatória da água. Tinham 4 filhos; dois do casal: Mário e Antoninho; o Augusto Lopes filho da D. Adelina e o Manuel Dodge, do Manuel do Motor.

JOÃO NUNES CARDOSO
Filho da Escola e antigo despenseiro da Marinha de Guerra. Era o encarregado da pensão do Chico da Conceição, a única existente naquele já longínquo ano de 1943, onde me hospedei à chegada. Anos depois consegui colocá-lo como encarregado de terra da Conserveira, onde ganhava mais do que eu, que era seu superior hierárquico, por causa das percentagens na produção de peixe seco, benefícios elevados que o Prof. Martins pouco tempo manteve.

HERMENEGILDO AUGUSTO SILVA
Mais conhecido por Silva Bindes, era sócio da firma Coimbra & Silva, da e por esse facto também sócio da Lusitana, Lda.

MONTEIRO
Encarregado da estação dos correios, era natural de Matosinhos.

JOÃO VIVEIROS
Empregado de balcão da Sul Angolana, casado com a D. Leontina era, ao tempo, correspondente local do jornal de Moçamedes, o “Sul de Angola”.

VITAL
Padeiro do Antunes da Cunha e especialista em caldeiradas de cabrito e copofonia. Por causa desta última especialidade foi “veranear” para a fazenda do Pinda a fazer de encarregado. Era um dos últimos degredados que para aqui vieram, já LIVRES há muito tempo. Um outro era o chamado St. Antoninho, pequenino e falso. O Vital, que o conhecia bem, dizia que tinha de ser seguro à primeira cacetada.

JERÓNIMO RIBEIRO
Alfaiate que o Tenente-coronel Vitória Pereira, do Lubango, fez jornalista do "Jornal da Huila".

COELHO
Serralheiro da Sul Angolana, tinha umas filhas muito “precoces”.

DELEGADO MARÍTIMO
[6] 1º Sargento de Manobras, cujo nome não me recordo, a quem pela primeira vez ouvi chamar Fracção Imprópria ao filho de um industrial que lhe passou à porta montado num burro.

PADRE LOPES
Veio substituir, salvo erro, o Pe. Zagalo e com quem convivi, mas que não conheci muito bem. Acabou por se despadrar e casou, no regresso à Metrópole. Para ter maior liberdade de movimentos, segundo me confidenciou, nunca entregou ao Bispo da Diocese, para não lhe ficar sujeito, a carta de excardinação.

PADRE SERRALHEIRO
Que substituiu o anterior, era um padre com outro tipo de modernidade, sem exageros. Tinha uma personalidade menos complicada que o seu antecessor. Deixei-o lá e mais tarde soube que faleceu no interior, ainda novo.

ALBERTO FERREIRA MARQUES
Secretário Administrativo, mais conhecido por Pega de Arranque. Era bom homem e tinha certa dificuldade em começar a falar e daí a alcunha. Fez a ponte entre dois Administradores e nessa situação mandava organizar bailes no Recreativo, com comes e bebes à custa da Junta Local, a propósito de qualquer evento sem importância. Tantos fez que levou a Junta à banca rota e por isso não acabou a interinidade normal.

HIROÍTO
Empregado de escritório do Antunes da Cunha, era um sósia perfeito do Imperador do Japão com esse nome.

FERNANDO PENALVA
Fundador, ou coisa parecida, de uma seita religiosa que tinha como patrono S. Luís de Gonzaga. Tinha relações de muita influência junto da família do Segismundo Sampaio.

MANUEL AUGUSTO SILVA
“Eu com a minha cara de Cristo Velho”, como ele dizia, era mais conhecido por Silva Makeiro, nome que lhe veio de ter tido questões ou problemas com uma parte considerável das pessoas importantes de Moçamedes e de Porto Alexandre. Foi o intermediário da venda da minha cota na Lusitana, Lda, ao Chico da Conceição, com que terminou a minha carreira de industrial de pesca.

FAMÍLIA PEIXE
Apenas conheci duas pessoas desta família, a D. Elvira Peixe e o Chico Peixe que era mestre de um palhabote de cabotagem.

CARLOS PESSOA
Comerciante e, nas horas vagas, fotógrafo amador com algum mérito.

GOMES
Encarregado dos armazéns locais do Sindicato de Pesca, a quem comprei uma pistola 6,35 por 500$00, por volta de 1944.

RUSSO
Correspondente do Banco de Angola.

CELESTINO RAMIRES
Guarda-livros do Patrício Correia.

FAMÍLIA PONTES
Poveiros. Ele era um homem já de certa idade que antes tinha estado em Manaus, casado com uma senhora chamada Ana. O casal só teve filhas e por isso o nome desapareceu. Eram três: a Cândida, casada com o António Trocado, dos quais fui comensal antes de terem ido para Moçamedes tomar conta de um hotel [5]; a Beatriz, nesse tempo já divorciada de um Concha; e a mais nova, a Geninha, casada com o Justino Pacheco.


Seca de peixe
Imagem: Gente do meu tempo (baú de recordações)

http://princesa-do-namibe.blogspot.pt/



Notas:
[4] Aliás do Algarve. vd. comentário de Óscar Batista – 11/10/08, em “Comentários à 1ª edição”, abaixo.
[5} Hotel Moçamedes (NR).
[6] vd. comentário de fbpires – 18/08/13, em “Comentários à 1ª edição”, abaixo.



Comentários à 1ª edição
5 comentários:

 27/4/06 5:10 da tarde
Anónimo disse...
O sr. Manuel Augusto Silva, conhecido em Angola por "Silva Makeiro" Faleceu há cerca de um ano em Freixo de Espada à Cinta depois de ter sido Presidente da Câmara Municipal durante 2 mandatos. A sua família continua instalada naquela vila do Douro Superior.

14/7/07 9:12 da tarde
 lena leote silva disse...
Sou a filha mais nova do Silva Makeiro, que faleceu a 24 de Novembro de 2004 Obrigada por o recordarem.

14/7/07 9:15 da tarde
 lena leote silva disse...
Gostava de saber onde anda a Vanda Eduarda Gonçalves de Carvalho, que vivia na Rua da Fábrica, em Moçâmedes, frente ao liceu. Nascemos no mesmo dia. Tinha duas irmãs: a Cita e a Helga.

11/10/08 7:41 da tarde
 Óscar Batista disse...
Sou Oscar Batista, filho do Chico Batista.
Venho por este meio pedir uma correcção.
O meu pai era algarvio e não nazareno.
Natural de Odeáxere concelho de Lagos.

18/8/13 12:50 da tarde
 fbpires disse...
O meu nome é Fernando Baptista Pires, nasci em Luanda e vivi em Porto Alexandre desde 1944 a 1951. O meu pai, António João Pires, era 1.º Sargento de Marinha na altura em que foi Delegado Marítimo. Não sei se é a ele que se refere mas não sou capaz de identificar ou confirmar a dita frase pois o meu pai faleceu em 2000 com a idade de 96 anos.

RELEMBRANDO GENTE DE PORTO ALEXANDRE


por Alfredo Baeta Garcia

2ª edição anotada

Parte I


Nota da Redacção
As anotações, referidas entre parêntesis rectos,
são da responsabilidade da Redacção e destinam-se,
apenas, a situar ou esclarecer certos aspectos da narrativa.




Baía de Porto Alexandre /Tômbwa
imagem: Google Earth

Esta relação de gentes de Porto Alexandre foi escrita de memória, mais de 40 anos depois do autor ter saído desta terra.

Não é um recenseamento da população de Porto Alexandre na década de 40. As pessoas aqui lembradas teriam, eventualmente, algumas particularidades que, então, as marcassem, para estarem presentes na minha memória. Dos restantes, que eram em maior número, ainda retenho a lembrança de muitos, mas sem a mesma nitidez e, por isso, não cabem nesta relação.

Em Porto Alexandre, na década de quarenta, existia um grupo de famílias bem demarcado social e economicamente cujos membros, em muitos casos, se tinham cruzado, o que, se por um lado podia dar origem a uma certa hegemonia, por outro contrariavam-na rivalidades que não podiam deixar de existir, pelo que a conjugação desses dois factores permitia um certo equilíbrio que tornava a sociedade alexandrense aberta a todos os estranhos, com um certo cunho de cosmopolitismo à sua medida.
A ordem do rol que se segue não tem qualquer significado especial.

FAMÍLIA SAMPAIO NUNES
Suponho que de origem madeirense e cujo primeiro representante local já havia falecido há anos. No meu tempo ainda era viva sua esposa, a D. Carlota, senhora bastante idosa que vivia com o filho, Sigismundo, meu vizinho pois eu era hóspede da pensão do Chico da Conceição, inquilino da família Sampaio.
O casal só teve filhos:
Albérico, industrial e comerciante, pessoa de fino trato e com aspecto de aristocrata inglês; era casado com a D. Ermelinda, filha dos Tendinha e pais da Gladice, Acrísio e Fernanda;
Edmundo, que foi administrador do concelho e pai do Cap. Arménio Sampaio Nunes que vim a conhecer no Quitexe vinte anos depois, a comandar a 89ª Companhia Independente de Caçadores Especiais, a primeira ali sediada em finais de 1961; Jaime, que foi almoxarife do palácio do Governador Geral, casado com uma filha do Manuel Carvalho, pais da Edite; o último, Sigismundo, casado com uma irmã do Emelino Abano, pais de quatro filhas, entre elas a Sigismunda, a Eunice e a Carlota. Foi meu senhorio, da última casa onde habitei em Porto Alexandre.

FAMÍLIA TENDINHA
Talvez a mais numerosa, da qual ainda conheci o velho Januário e a esposa. Era de Olhão e tinha sido carpinteiro de ribeira. Os filhos que conheci foram os seguintes: Ermelinda, já referida [ na família Sampaio Nunes ]; Januário, casado com uma Frota, era empregado do Sindicato; Avelino, carpinteiro de ribeira, profissão que trocou pela de industrial, de sociedade com o irmão Lourdino; Tomé, pequeno comerciante e pequeno industrial de quem também fui inquilino, de parceria com o Lucas Vicente e de que resultou o casamento deste com a Carminho, filha do nosso senhorio; Marceana, casada com o Prof. Martins que foi meu patrão na Conserveira; uma outra filha, casada com um filho do Correia de Freitas, proprietário d’ ”A Província de Angola”; o mais novo, Lourdino - que deve o nome ao facto de os pais esperarem uma menina, para a qual já tinham escolhido o nome de Lourdes e daí Lourdino – era despachante oficial de alfândega e casado com a D. Josefina, da família Sena, tendo o seu filho mais novo, também Lourdino, levado um tiro que lhe atingiu o fígado, quando prestava serviço militar no Quitexe, onde o encontrei durante a guerra 61/74.

FAMÍLIA SENA
Havia dois ramos provenientes de irmãos, de que apenas conheci o que era cego e pai da Josefina; do António, pai da Gisela; do Alexandrino e de uma Senhora que viveu em Moçambique e que regressou às origens com a família , em finais da década de quarenta.
Ao outro ramo pertenciam o Francisco, sócio da firma “Sena & Ribeiro”, e o Orlando. Eram de origem algarvia.

FAMÍLIA CARVALHO
Algarvia igualmente, com dois ramos provenientes de dois irmãos: o do Manuel e o do Francisco; deste, dois filhos, o Zequinha e o Francisco; do Manuel, o Manelinho, de quem fui inquilino, o Zeca, que era pai da Luísa e da Eugénia, o Eugénio, o Celestino, o Jaime, o Artur – Turra – que teve uma filha que foi Miss Portugal [2], e uma filha casada com o Jaime Sampaio Nunes.

FAMÍLIA MARTINS DA SILVA
De origem madeirense cuja cabeça, a D. Miquelina, não conheci sequer de vista pois não saía de casa como, aliás, todas as mulheres casadas. Os filhos foram todos empregados da Conserveira, excepto o mais novo, Flávio: Vitorino, carpinteiro de ribeira, casado com uma filha do Avelino Tendinha; Américo, que foi o melhor mestre de sacada do meu tempo; Ângelo, casado com uma filha do Chico Sena; Lúcio, que fui substituir como ajudante de guarda-livros do Serafim Frota, na Conserveira; e uma mulher casada com o António Pires que foi chefe de redacção d’ “A Província de Angola”.

FAMÍLIA SACRAMENTO
De origem algarvia de que mal me lembro: do velho, do qual houve um filho único, o Alfeu, que veio a Lisboa e, de regresso, apareceu de polainitos e com a Cármen Cartier. Uma irmã desta casou com o Francisco Carvalho, sobrinho.

FAMÍLIA PACHECO
No meu tempo era viva apenas a mãe, irmã da D. Miquelina, que também não conheci pela mesma razão da irmã [ vide família Martins da Silva ]. Eram seus filhos: o José, que foi gerente do Banco de Angola; o Justino, que foi empregado de escritório do Albérico Sampaio e ultimamente tinha um Jeep de aluguer para caçadas; o Taruca; e uma rapariga que ficou solteira e que também não conheci, pelas mesmas razões da mãe e da tia. A sua origem era, igualmente, madeirense.

FAMÍLIA SANCADAS
Vivia no Bairro Poveiro e era a que restava da colonização poveira do tempo do Gen. NORTON de Matos. Tinha filhos de que pouco ou nada recordo [ recordamos, não obstante, a existência das famílias Trocado e Marques, também dessa colonização ].

FAMÍLIA ARROBAS DA SILVA
O velho Adriano, que aqui terminou a sua carreira administrativa como secretário, era casado com a D. Luísa, em casa de quem fui comensal. Ela era uma santa mulher, por aquilo que lhe aturou e tiveram os seguintes filhos: Fernanda, casada com o Prof. João Cardoso; Emília, casada com o Mário Carneiro; Fernando, que foi funcionário da Alfândega; e João, que veio a ser funcionário administrativo, como o pai, e casou com uma filha do António Alípio. Era de origem cabo-verdiana.

FAMÍLIA BODIÃO
Algarvios, divididos em dois ramos, de quem não lembro os nomes. Um deles tinha dois filhos que foram empregados da Conserveira e uma filha.

FAMÍLIA VIEGAS
No meu tempo só era viva a mãe, que não conheci pelo mesmo motivo das outras. Este facto não deixa de ser estranho, pela razão de eu ter ali vivido, ininterruptamente, onze anos e ter conhecido, efectivamente, toda a gente. Havia os seguintes irmãos: Aureliano (Lianinho), empregado de balcão da Conserveira; o Lila, empregado do Sindicato da Pesca; e o Rui que era o mais velho.

FAMÍLIA ANTÓNIO ALÍPIO ou PANTALEÃO PISOEIRO
Nunca soube qual destes dois nomes era o legítimo; nazareno e mandador da armação da “SOS”. A mulher, Noémia, era da família conhecida pela alcunha de Chimpenso, apenas constituída por mais dois irmãos. Tinham quatro filhas e um filho: uma casada com o João Arrobas; outra, Antonieta, a rapariga mais bonita desse tempo, casou com um primo de Moça-medes , filho do Chico da Conceição, e morreu do primeiro parto.

FAMÍLIA JOAQUIM ROMÃO
Algarvio da Fuzeta. Tinha um filho e duas filhas e era sócio principal da “Parceria de Pesca”. Um cunhado seu, o Manuel Reis, foi seu sócio na fundação da “Lusitana”. Tinha um meio-irmão, o José Rolão, seu empregado que fundou, com o Baldomero Trocado, ao tempo também empregado da “Parceria”, o primeiro cinema permanente instalado na vila e depois foi para Moçamedes inaugurar ali a primeira pastelaria, a “Rollan”, de sociedade com o Zé Lã tendo, antes, começado com uma fábrica de amêndoas, talvez a primeira de Angola.

FAMÍLIA DO Ó FAUSTINO
Era uma família numerosa e antiga que, em parte, se dispersou. Nesse tempo o seu membro mais representativo era o Constantino, sócio minoritário da firma “Antunes da Cunha” e cunhado do sócio principal, que era o velho Albino da Cunha. A sua secção comercial era a mais importante nesses primeiros tempos. O Albino tinha um filho, o Joaquim Albino, que jogou futebol na Académica. Um seu sobrinho, o John, foi o meu maior amigo dessa época, teve um desastre de avioneta em Moçamedes e ficou parcialmente paraplégico, morrendo poucos anos depois, em Lisboa.

FAMÍLIA BARRETO
Também das mais antigas e que, inicialmente, esteve instalada na parte terminal do Curoca, chamada Pinda, numa minúscula fazenda já abandonada em 1943, cujos vestígios eram, apenas, duas ou três palmeiras e deu o nome à rampa que sobe do Curoca ao planalto de Sto. António, chamada “Subida do Barreto”. Só lhe conheci um filho, chamado Alberto.

FAMÍLIA CRUZ
Suponho ser descendente de uma lendária Maria da Cruz Rolão, patrona da escola primária da vila, por ter intimado, na qualidade de Regedora, uma canhoneira inglesa a levantar ferro, o que esta, surpreendentemente, fez, apesar de não existir qualquer força visível que a isso pudesse obrigá-la. Eram seus descendentes, tanto quanto presumo, Carolina da Cruz, mãe e filha. Não sei se o Júlio da Cruz era, ou não, da família.

FAMÍLIA PELEIRA
O pai, Vergílio Peleira, morreu no ano da minha chegada. Tinha um irmão, Veridiano Peleira, que não sei qual era a sua actividade, só que andava sempre encasacado de caqui e gravata e com uma pequena vergasta na mão. Era pessoa de poucas falas, presumo que por timidez. A viúva do Vergílio ficou a gerir um pequeno estabelecimento e uma ou duas canoas de pesca à linha e com isso, equilibradamente, conseguiu acabar de criar os três filhos, dos quais o Tica, que era o mais velho [1], casou com uma filha do Tomé Tendinha.

FAMÍLIA GASPAR
Ele era natural da Figueira da Foz e também faleceu no ano da minha chegada. A viúva era irmã da mulher do Peleira. Tinham vários filhos e uma filha, Ermelinda, que esteve para casar com o José António Neves Graça, mas que o Prof. Martins, quixotescamente, fez abortar sem ter nada a ver com o assunto.

FAMÍLIA NEVES GRAÇA
O pai Neves já se tinha retirado antes de eu chegar, o que era um caso muito raro: quem vinha era para ficar. Tinha dois filhos: o Joaquim, em Moçamedes, na firma “Amadeu Gonçalves & Neves” que era, maioritariamente, do pai; e o José António que, ao tempo, geria a “Sul Angolana”, também da família. O José António tinha o privilégio, único na terra, de ser servido por uma criada branca, já de certa idade, a Senhora Carlota que tinha sido sua ama em casa dos pais, nas imediações do Porto. Tinha um primo, o Mário Carneiro, que foi empregado da “Sul Angolana” e depois se estabeleceu com uma pequena pescaria, ao mesmo tempo que fazia fretes com uma camioneta. Casou com a Emília, filha do Arrobas da Silva.

FAMÍLIA PROF. MANUEL DA PIEDADE MARTINS
Como já disse, ele era casado com a D. Marceana, filha do velho Januário Tendinha. O casal tinha quatro filhos: o Armando, que faleceu pouco depois de chegar em 1975; o Carlos e duas filhas: a Balela [3] e a Gracinha, ambas bastante mais novas que os dois irmãos. O Prof. Martins pediu a reintegração como funcionário, muito mais tarde, e a última vez que o vi foi em Luanda.




Pesca de sacada
imagem: http://princesa-do-namibe.blogspot.pt/ 




Notas:

[1] O filho mais velho é o Mário. vd. comentário de Nair – 18/02/06, em “Comentários à 1ª edição”, abaixo.
[2] Não foi Miss Portugal mas Miss Jovem Portugal e Miss Jovem Internacional, a Paula “Turra”. vd. comentário de “Anónimo” - 21/10/06, em “Comentários à 1ª edição”, abaixo.
 [3] Aliás Manuela. vd. comentário de Rogério Silva -  6/8/17, em “Comentários à 1ª edição”, abaixo.               



Comentários à 1ª edição

11:23 PM, Fevereiro 18, 2006
13 comentários:

18/2/06 11:23 da tarde
Nair disse...
Só uma pequena correcção em relação à família Peleira: dos filhos de Virgílio e Irene Alves Peleira o mais [velho] é o meu pai, Mário, e não o Tica como, erradamente, muita gente pensa, talvez porque o meu pai sempre pareceu ter menos idade. De qualquer modo, sensibiliza-me a referência à família Peleira e, em especial, à minha Avó Irene que, como bem disse o Sr. Alfredo Baeta Garcia, soube acabar de criar os filhos, mesmo em condições difíceis. Foi uma mulher de trabalho e coragem



20/3/06 1:23 da manhã
aileda disse...
Felicito o autor pela lembrança de trazer aKi... famílias de porto Alexandre com quem conviveu durante onze anos.
No entanto, penso q não seremos da mesma geração, pois há nas suas referências algumas incorrecções (nomes, idades e até factos, como mulheres a quem ninguém viu a cara: - conheci a D. Miquelina,a mãe Viegas e tantas outras senhoras que podiam ser minhas avós....)
A propósito, recordo, quando à tardinha a D. Miquelina, à porta de sua casa (onde vivi com meus pais e mana - talvez entre 1957/58/59), nos contava "estórias" da sua meninice, do tempo de Maria da Cruz Rolão, e muitas vezes nos acompanhava o "preto velho" (como chamávamos a um seu contemporâneo), confirmando os seus relatos.
De qualquer modo...foi um miminho o que nos fez recordar.
Bem haja!
aileda

27/5/06 12:35 da manhã
Ana Clara disse...
Felicito pelo seu Blog. Tenho aprendido muito!
Em relação à família Tendinha:
O Januário António Mendes Tendinha era casado com Maria da Cruz Sousa Rolão e tiveram os filhos que disse, sendo a casada com o Correia de Freitas a Constantina.
O filho Januário, meu avô, era casado com Felicidade dos Santos Frota Tendinha, filha de Manuel Fernandes Frota e Carolina dos Santos Frota (9 filhos).
Os meus avós tiveram 7 filhos: Domicilia (cc Rogério Pompeu - 5 filhos), Felicidade (cc Raul Trindade - 1 filha), Mª Do Céu (cc Manuel Pimentel Teixeira - 4 filhos), Januário (cc Lourdes Ilha - 2 filhos), Fernando (cc Mª José Sousa, Zita - 3filhos), Mário Romualdo (cc Mª Clotilde Monteiro Silva - 3 filhos), José Helder (cc Mª Amélia de Sousa - 2filhos).
Eu sou filha do Mário, que já é bisavô de 4 crianças do meu irmão mais velho, também Mário. A mais nova da família nasceu há um mês e é a 6º geração nascida em Angola.
ps. a familia Frota é também muito grande, talvez maior e igualmente antiga.
Obrigada
Ana Clara Tendinha Rivera

26/9/06 1:27 da tarde
Namibiano Ferreira disse...
Sobre os Barretos estão alguns em Ovar. Quando saí de lá em 1999 a D. Glicínia Barreto ainda era viva, o velho Barreto faleceu com mais de 100 anos, era a pessoa mais idosa do concelho de Ovar. Um dos filhos tem um armazém de brinquedos e artigos loja dos 300. Parabéns a este blog alexandrense. Sou natural da cidade que cheirava a peixe e neto do João Craveiro que tinha uma oficina de automóveis junto ao hospital. Escrevo poesia com o nome Namibiabo Ferreira.

21/10/06 1:12 da manhã
Anónimo disse...
...no "fim" está escrito (continua)
podem explicar onde está essa cont.
Nasci tb nesta terra especial, com 11 aninhos fui arrancado d'ali sem saber como. Hoje tenho 42 e continuo a amá-la como se fosse minha e eu dela...tenho s"o"dades.
Sou neto do Francisco Batista, tb um empreendedor algarvio, vencedor como Aqueles aqui relatados...
bom trabalho...nota 10 aos autores

21/10/06 2:01 da manhã
Admário Costa Lindo disse...
Olá neto do Xico Batista,
um grande abraço.
Dos artigos com a indicação (continua), apenas o "Recordações e Retalhos" ainda não a teve... é que os autores são de facto muitos mas o escriba de serviço é apenas um. Mas em breve será publicada a continuação.
O artigo "Relembrando Gente de Porto Alexandre" já está publicado na totalidade. Foi dividido em V partes.
Como a página já está bastante longa, grande parte dos artigos não estão visíveis, podendo ser procurados no Arquivo. Porém, há uma solução mais directa: na coluna do lado direito existe um índice: basta ir clicando nos links das várias partes para se fazer uma melhor leitura.
Admário.

1/4/07 11:26 da manhã
Paula Oliveira disse...
Olá! Chamo-me Paula e estou a aqui com a minha avó Elisa, de 90 anos, que está toda emocionada a ver, na net, histórias ligadas à sua vida em Porto Alexandre e Moçamedes. Foi casada com Agnelo Alves de Oliveira (funcionário dos correios de Moçamedes), um dos 11 filhos da Maria da Conceição Alves e do (2º marido) António Alves. Lembra-se muito bem de muitas destas famílias aqui retratadas, dos locais, e das situações! A avó Elisa e o Avó Agnelo, tiveram 4 filhos, a Suzete, o António Alberto, A Fátima e a mais nova, Teresa, que é a minha mãe.
Só posso dar os parabéns a quem teve a iniciativa de fazer este espaço!



9/2/08 11:48 da tarde
Sérgio Nicolae disse...
Muito boa esta colectânea. Sou neto do Antoninho e da Zélinha, filha do Francisco Sena que falou. Ando à procura de dados para uma árvore genealógica que estou a fazer e encontrar este texto foi uma ajuda. Já agora Nair, houve um peleira que casou com Eugénia Sena e teve um filho chamado Ermelindo. Ermelindo Sena Peleira casou com a minha tia avó Maria da Conceição Sena ( eram primos irmãos ) e tiveram 5 filhos dos quais 3 ainda vivem. Não sei se estes nomes se enquadram nos que escreveu.
Bem hajam a todos

1/4/08 5:57 da tarde
lurdes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

1/4/08 6:06 da tarde
lurdes disse...
ola gostei de visitar este blog passei por aki pra ver se conseguia ver o novo nome de porto alexandre terra onde nasci chamo-me lurdes bernardino 44 anos filha de antonio bernardino filho gostaria de encontrar pessoas k e tivesem andado comigo na escola em porto alexandre o n de conctato 963278692


25/11/08 12:45 da manhã
Paula disse...
Olá! Parabéns pelo Blog!
Pertenço à Familia Bodião - uma das que tem menos informação - mas que actualmente vive quase toda em Olhão, tendo através da internet descoberto também alguns familiares em Lisboa. Penso que os dois ramos de que fala sejam o meu bisavô - António Teodoro Bodião (já falecido) - e o seu irmão - Manuel Damião Bodião, filho de José Maria Bodião & Ana Besouro. Através de sites como o seu na internet já descobri entretanto muito membros desconhecidos e a árvore genealógica que começou pequena já vai muito adiantada. Conheço também pessoas da Família Sena e de nome da Familia Tendinha, Carvalho e Sancadas. Se precisar de algumas informações adicionais, disponha - paulabodiao@hotmail.com.
Cumprimentos

20/7/13 5:19 da manhã
Anónimo disse...
Paula "Turra", melhor dizendo, Ana Paula Evangelista de Carvalho, filha do lendário homem do deserto do Namibe, já falecido, "Turra" - Artur Paulo de Carvalho, não foi Miss Portugal. Foi, isso sim, Miss Jovem no Concurso de Miss Portugal e ganhou, no Japão, o concurso Miss Jovem Internacional, a mais bela Jovem do Mundo!

6/8/17 11:41 da tarde
Rogério Silva disse...
Já se passaram muitos anos, mas releio sempre com prazer.
Relativamente ao comentário em que se refere ao meu tio Martins, que casou com a minha tia Marceana (Tendinha) só uma pequenina correcção. A irmã mais nova da Graça (filhas do casal) não se chama Balela mas sim Manuela.
Falei ontem com ela. Vive na África do Sul e veio a Portugal.




última atualização: 29.12.2017